terça-feira, 28 de março de 2017

Santa Teresa de Jesus,Mística



SANTA TERESA DE JESUS
Morro por que não morro

Vivo sem viver em mim,
E tão alta vida espero,
Que morro porque não morro.

Vivo já fora de mim,
Desde que morro d’Amor
Porque vivo no Senhor

Que me escolheu para Si;
Quando o coração Lhe dei
Com terno amor lhe gravei:

Que morro porque não morro.
Esta divina prisão
Do grande amor em que vivo,

Fez a Deus ser meu cativo,
E livre o meu coração;
E causa em mim tal paixão

Ser eu de Deus a prisão,
Que morro porque não morro.
Ai que longa é esta vida!

Que duros estes desterros!
Este cárcere, estes ferros
Onde a alma está metida.

Só de esperar a saída
Me causa dor tão sentida,
Que morro porque não morro.

Ai, que vida tão amarga
Por não gozar o Senhor!
Pois sendo doce o amor,

Não o é, a espera larga;
Tira-me, ó Deus, este fardo
Tão pesado e tão amargo,

Que morro porque não morro.
Só com esta confiança
Vivo porque hei de morrer.

Porque morrendo, o viver
Me assegura a esperança;
Morte do viver s’alcança;

Vem depressa em meu socorro,
Que morro porque não morro.
Olha que o amor é forte;

Vida, não sejas molesta,
Olha que apenas te resta
Para ganhar-te o perder-te;

Vem depressa doce morte
Acolhe-me em teu socorro
Que morro porque não morro.

Do alto, aquela vida
Que é a vida prometida,
Até que seja perdida

Não se tem, estando viva;
Morte não sejas esquiva;
Vem depressa em meu socorro,

Que morro porque não morro.
Vida, que possa eu dar
A meu Deus que vive em mim,

Se não é perder-te enfim,
Para melhor O gozar?
Morrendo O quero alcançar,

Pois nele está meu socorro
Que morro porque não morro.



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